Turma conclui oficina sobre jornalismo e direitos humanos
“O que significa democracia?” Foi com essa pergunta que o professor Victor Gentilli deu início à apresentação da segunda unidade da Oficina Jornalismo e Direitos Humanos, na última sexta-feira (14/11), que reuniu jornalistas, estudantes e militantes de movimentos sociais na Universidade Federal do Espírito Santo. Questionar um conceito que hoje se apresenta de forma tão naturalizada foi o primeiro desafio lançado à turma – “Alguém se arrisca a definir?”, insistiu Gentilli.
“É um sistema de governo em que prevalece a vontade da maioria”, sintetizou a jornalista Nicolle Expósito. A partir daí, teve início uma discussão sobre modelos democráticos (democracia direta, democracia representativa) e sobre o processo de construção da cidadania.
Usando como referência as obras do sociólogo T.H. Marshall, Gentilli falou sobre as etapas que marcaram o processo de construção da cidadania, com as conquistas dos direitos civis, políticos e sociais ao longo dos séculos XVIII, XIX e XX, respectivamente. Neste processo de luta pelos direitos civis – que giram em torno das liberdades individuais –, surgiram os primeiros jornais, o conceito de liberdade de expressão e a noção de privacidade. Com a conquista dos direitos políticos (e do voto) fiou cada vez mais clara a separação entre os conceitos de público e privado. Neste sentido, segundo Gentilli, saber diferenciar assuntos que são do âmbito público e do âmbito privado é essencial para o jornalismo: “É necessário tratar das questões públicas e saber preservar a vida privada”, conclui Gentilli.
O debate sobre “Jornalismo ideal versus jornalismo real” foi feito pelo professor Rafael Paes. Ele apresentou duas visões comuns do jornalismo: a primeira como uma prática profissional voltada a interesses privados e com finalidades comerciais, e a segunda como uma profissão que tem o compromisso com a verdade e desempenha a função social de informar o público de maneira imparcial e objetiva. Paes lançou a seguinte provocação: pode haver conciliação entre essas duas visões de jornalismo?
“É preciso superar essa separação. O jornalismo é essas duas coisas”, afirma o professor. Utilizando como referência os pesquisadores Nilson Lage e Eduardo Meditsch, Paes explica que é necessário utilizar essa contradição constitutiva do jornalismo a favor de uma atividade menos automatizada, conservadora e reprodutora das ideias e preconceitos do senso comum e mais crítica e a serviço de transformações simbólicas e culturais.
Mas como é possível fazer essa conciliação nas rotinas produtivas do jornalismo? Segundo o professor, o jornalista pode fazer a sua parte no dia a dia, ao adotar determinadas práticas (que a princípio podem parecer pequenas, irrisórias) como cuidados com a linguagem e com os termos utilizados, e observar as fontes consultadas. “Pode parecer um trabalho de formiguinha, mas é preciso trabalhar no limite”.
Minorias políticas – No sábado pela manhã, a turma continuou as discussões com as apresentações dos estudantes que participam como extensionistas do projeto. Cláudio Vervloet, Bianca Bortolon, Júlia Baroni e Rayanne Matiazzi trouxeram casos que ilustram como a mídia trata algumas minorias políticas, como crianças e adolescentes, mulheres, população LGBTT, população em situação de rua e negros. Os estudantes tiveram o cuidado de buscar exemplos negativos e positivos, para mostrar que é possível produzir matérias jornalísticas respeitando as especificidades de cada público.
Com o fim da segunda e última unidade do curso, a primeira turma avaliou positivamente as atividades, como explica o jornalista Miguel Filho: “Para mim foi ótimo como jornalista poder participar desse curso, porque querendo ou não, no dia a dia do nosso trabalho a gente é carregado de vícios e ter esse momento de quebra, onde você percebe como você age de alguma forma errada, incorreta ou inadequada no seu trabalho… É muito legal você ter esse momento de poder conversar e debater esse assunto com outros profissionais”.
E o processo de aprendizado ao longo do curso foi recíproco, como afirmam as estudantes que participaram da organização como extensionistas do projeto: “Toda atividade educacional é uma via de mão dupla né, na medida em que você fala algumas coisas e as questões levantadas pelos próprios participantes também te fazem refletir. Foi uma experiência de aprendizado geral em que os nossos orientadores nos ajudaram, as pessoas que participaram ajudaram e eu acho que a gente também ajudou um pouco, então foi uma coisa mútua, foi muito legal”, relata a estudante Bianca Bortolon.
A Oficina Jornalismo e Direitos Humanos é promovida pelo Observatório da Mídia em parceria com o Sindijornalistas-ES. Profissionais de quase todos os veículos de imprensa do estado participaram da primeira turma do curso, encerrada neste final de semana. 75 pessoas participaram da capacitação.
O segundo módulo, da segunda turma, da Oficina Jornalismo e Direitos Humanos começou na última segunda-feira (17/11).