Fotógrafo de AT é demitido porque não clicou cafetina
O fotógrafo Luiz Pajaú foi demitido do Jornal A Tribuna às 15h15 do dia 1º de abril. A princípio, quando foi informado da demissão, não levou a sério, pensou ser uma brincadeira, afinal era o dia nacional da mentira. Depois de nove anos de trabalho e 34 de profissão, nem o aviso prévio teve que cumprir. Foi descartado como um objeto. Alguns colegas se solidarizaram e marcaram para o dia seguinte uma manifestação de protesto pela demissão imotivada: todos estariam vestidos de preto. Porém, cerca de 40% dos jornalistas vestiram-se de preto, mas nem os fotógrafos, seus colegas diretos, trajaram o luto.
A rádio corredor dá conta que a demissão foi motivada porque o fotógrafo não fez a foto da cafetina e prostituta Andréia Schwartz. É bom lembrar que somente um fotógrafo, do jornal O Dia, conseguiu clicar a agenciadora de garotas de programa, isto porque pagou pela pose.
Por ironia, no mesmo dia A Tribuna recebeu, em Brasília o troféu “Deusa da Fortuna”, conhecido como o Oscar do Varejo. O jornal foi premiado pela quinta vez consecutiva como o “melhor Jornal” parceiro dos comerciantes e lojistas capixabas. O diretor comercial de A Tribuna, disse ao receber o prêmio que “Temos o compromisso de garantir que os clientes tenham tratamento diferenciado, de excelência. Temos o compromisso de colocar o espírito de servir sempre à disposição dos clientes e leitores. É dessa forma que fazemos A Tribuna ser o melhor para os nossos parceiros”. (veja na página 33 de AT, edição 02/04/2008).
Então perguntamos: e para os trabalhadores? Aqueles que todos os dias estão lá, vendendo por uma ninharia, sua força de trabalho? Não podemos dizer que o compromisso de A Tribuna seja de respeito, pois as arbitrariedades praticadas, principalmente contra os jornalistas, já viraram rotina. E ela prega, mas não pratica a desconhecida “Responsabilidade Social”. Não é à toa que o Sindijornalistas está pedindo, na Justiça do Trabalho, o pagamento de horas extras trabalhadas e não pagas. Conteste aqui aquele que ao dobrar a jornada, em substituição a um colega, não foi na portaria bater o ponto, pegar um crachá de visitante e voltar para a redação e continuar trabalhando?
A demissão sem motivos é arbitrária, explica a presidente do Sindijornalistas, Suzana Tatagiba. A Convenção 158, da Organização Internacional do Trabalho (OIT) proíbe a demissão sem justa causa. O Brasil ainda não ratificou essa Convenção que precisa da aprovação do Congresso Nacional. O presidente Lula enviou mensagem para ser votada, mas o assunto já gerou muita polêmica, porque a demissão no Brasil é usada para gerar lucro aos patrões. Descarta-se um trabalhador com maior salário, por outro sem experiência, pagando muitas vezes metade do salário que era pago ao demitido. Além disso, é uma espécie de chicote. É demonstração de poder e ameaça constante para os trabalhadores.
O jornalista Júlio Pater, chargista de A Tribuna, estava indignado com a demissão de Pajaú e pelo desrespeito com que a empresa trata seus empregados. A forma acintosa, com que o editor chefe chama a atenção dos jornalistas no meio da redação, falando alto, ameaçando na frente de todos, configura assédio moral. Mas, segundo ele, pior do que o desrespeito da empresa foi ver a indiferença da maioria dos jornalistas, que nem se deram conta que a demissão do colega pode bater à porta de todos.
O Sindicato está à disposição de Pajaú como o de qualquer outro trabalhador sindicalizado. Ao contrário de A Tribuna, o Sindijornalistas não mede esforços para defender a categoria.