Jornalistas debatem cobertura cultural na mídia
O Sindijornalistas realizou a quinta palestra do ciclo Sustentabilidade para Comunicadores. No dia 14, cerca de 150 pessoas, entre jornalistas, estudantes e artistas, estiveram presentes no Hotel Sheraton Vitória para debater a cobertura cultural na mídia. O palestrante principal foi Leonardo Brant, autor do livro “Mercado Cultural” e organizador das obras “Políticas Culturais” e “Diversidade Cultural”.
Brant destacou a mudança pela qual o jornalismo cultural tem passado nas últimas décadas. “Cada vez mais se reduz as matérias sobre cultura e cresce o destaque dado ao entretenimento e ao mundo das celebridades. Isso não é somente no Brasil. É uma tendência mundial, exceto em alguns jornais europeus, como o Le Monde”, afirma o palestrante. Ele salienta que a queda na qualidade dos cadernos de cultura está relacionada, entre outros fatores, pelo enxugamento das redações. “As redações estão cada vez menores e as demissões normalmente começam pelo caderno de cultura. Os críticos de cultura estão sendo expurgados e montando blogs culturais”, explica.
Além da palestra de Leonardo Brant também houve uma mesa-redonda composta pela jornalista, Doutora em Estudos Literários e coordenadora do curso de Artes Cênicas da Universidade de Vila Velha (UVV); Ivana Esteves Passos, pelo jornalista e editor do Caderno Pensar (A Gazeta), José Roberto Santos Neves; pelo professor do Departamento de Comunicação Social da Ufes, Alexandre Curtiss Alvarenga; pelo jornalista e apresentador do Programa Curta Vídeo (TVE), Luiz Tadeu Teixeira; e pela apresentadora do Programa Ponto Cult (TV Tribuna), Bruna Bezerra.
O apresentador da TVE concorda com a afirmação de Leonardo Brant sobre a mudança no perfil dos cadernos de cultura. “Realmente falta crítica, pois os eventos acontecem e, depois, não há repercussão na mídia. Estreitou-se o espaço para a reflexão e aumentou para a futilidade. Há colunistas que ficam na redação procurando na internet fofoquinhas sobre as celebridades e, até mesmo, que ‘plantam fofocas’ para difamar as pessoas”, defende Luiz Tadeu Teixeira.
Para José Roberto, muitas vezes os veículos de comunicação subestimam a inteligência do leitor, noticiando matérias consideradas de cunho popular, como se somente elas fossem agradar quem lê. “O erro dessa crença está evidente no sucesso do Caderno Pensar, lançado para preencher uma lacuna do Caderno Dois, de A Gazeta, que se tornou mais popular. No Pensar, o retorno do público tem sido muito grande”, conta José Roberto.
Após a fala dos palestrantes, teve início o debate com os participantes. Na ocasião, Abelhão, presidente do Instituto Tamo Junto, organização sem fins lucrativos formada por jovens e que desenvolve intervenções urbanas juvenis por meio da arte, cultura, meio ambiente, esporte e lazer, compartilhou uma reflexão sobre a cobertura da mídia em relação às comunidades populares. “Bairro da Penha, por exemplo, tem inúmeras manifestações culturais, mas o que a imprensa evidencia é a violência vivida no local”, afirma Abelhão.
Para Alexandre Curtiss, uma das causas da realidade mostrada por Abelhão é a falta de vivência dos estudantes de jornalismo nas comunidades populares. “Os estudantes não têm contato com a realidade do Abelhão, por exemplo. É falta de tato, de contato com o mundo real. As manifestações culturais das comunidades populares não deixam a dever em relação a nenhuma outra”, defende Curtiss. Para Ivana, um dos papéis da universidade é desenvolver esse tato nos alunos por meio de debates sobre comunicação cidadã, por exemplo.
O ciclo de palestras Sustentabilidade para Comunicadores teve início em 2008 e tem como eixos temáticos as seis dimensões da sustentabilidade: social, econômica, política, ambiental, cultural e espiritual. Iniciado em 2008, o projeto já apresentou os temas “A Cobertura Social na Mídia”, com Amelia Gonzalez, editora do caderno Razão Social, suplemento mensal de sustentabilidade publicado pelo jornal O Globo; “A Cobertura Política na Mídia”, com Sylvio Costa, diretor do Congresso em Foco, site jornalístico que faz a cobertura do Congresso Nacional e dos principais fatos políticos de Brasília. “A Cobertura Econômica na Mídia”, com Reinaldo Canto, jornalista e colunista da Revista Carta Capital e “A Cobertura do Meio Ambiente na Mídia”, com Washington Novaes, jornalista, escritor, colunista e comentarista do Programa Repórter Eco da TV Cultura de São Paulo.