BASTA! Agressões a jornalistas são atentado à sociedade
O Sindijornalistas e a Federação Nacional dos Jornalistas vêm a público manifestar seu total repúdio às agressões praticadas contra jornalistas em pleno exercício profissional, em Vitória, no final se semana e nesta segunda-feira.
A repórter Luciana Castro, do Jornal A Gazeta, foi agredida, no último sábado (16/09),quando apurava uma reportagem esportiva, pela esposa do jogador Edinho da Desportiva Ferroviária. Já o repórter cinematográfico, do Jornal A Tribuna, Fernando Ribeiro, sofreu agressões, nesta segunda (18/09) ao registrar na delegacia da Infância e Juventude um caso de pedofilia pelos familiares do acusado.
O Sindijornalistas e a Fenaj cobram das autoridades competentes a rigidez contra indivíduos que tentam cercear a liberdade de imprensa e se posicionam ao lado dos profissionais que estão nas ruas para apurar os fatos e levar uma informação de qualidade à sociedade.
O Sindicato irá exigir da Federação de Futebol do Estado do ES e do Clube Desportiva que apurem o caso e tomem as devidas providências para que fatos como esses não se repitam garantindo a segurança e integridade dos jornalistas.
Nos solidarizamos com os profissionais e colocamos nosso corpo jurídico à disposição.
Confira abaixo relato da jornalista Luciana Castro:
“O futebol para mim foi sempre coração. Muitas vezes, preciso me repreender por tratar com tanta paixão o esporte e deixar que ele tenha tanta importância na minha vida, a ponte de ser ele um dos principais motivos de eu ter escolhido fazer jornalismo.
Mineira, foi no Espírito Santo que comecei a dar meus primeiros passos neste mundo. Desde de 2012 sou repórter dos jornais A Gazeta e Notícia Agora, além do site gazetaonline. Desde lá, o futebol capixaba, que é nosso carro chefe na editoria, tem sido presença constante em meu dia a dia, inclusive nos momentos de folga, quando mesmo assim a história da paixão pelo futebol fala mais alto e a gente vai para o estádio para ver mais pouquinho daquilo que a gente tanto gosta.
Embora já tenha passado várias momentos de prova, por ser mulher e minoria em um local em que a maioria é composta por homens, eu sempre contornei as situações e segui fazendo meu trabalho.
No último sábado, porém, vivenciei algo inédito. Após o jogo Desportiva e Atlético Itapemirim, como de costume, fui fazer as entrevistas com os atletas e técnicos. Fiz o que havia programado, mas ainda faltava uma entrevista para fechar o dia. No estádio Engenheiro Araripe é comum as pessoas, mesmo não credenciadas, entrarem no local destinado à imprensa e ficarem circulando por lá, junto dos jornalistas (algo que o presidente da Desportiva, Edney Costa me prometeu melhorar).
Pois então, eu e o estagiário do globoesporte.com/es José Renato Campos fizemos as perguntas para o jogador grená, que nos respondeu por cerca de cinco minutos. Acabada a abordagem sobre aquele jogo e seus desdobramentos, continuei a entrevista, desta vez sozinha, pois estava adiantando a apuração de uma matéria especial. A pauta é descontraída e junto deste atleta, chamei outro jogador, que também seria personagem da tal reportagem, para fazermos a entrevista juntos.
Não se passaram mais de três minutos, já finalizando a conversa, no momento em que eu pedi para tirar uma foto para a matéria, fui surpreendida pela esposa do jogador ao meu lado, falando algo irônico, sem muito sentido.
No primeiro instante até acreditei que ela queria participar da entrevista e que tinha algo a acrescentar. Continuei conversando e só então, quando ela avançou no meu crachá, arranhando meu colo e puxando bruscamente minha identificação, chegando a machucar meu pescoço, é que entendi que aquilo era uma agressão. Fiquei em choque. Ela saiu gritando, acompanhado pelo marido que a retirou de lá. Meu chão caiu.
Demorei um pouco para assimilar, e confesso que agora, mesmo passadas as 24 horas iniciais, ainda não consegui entender muito bem. Mas o que fica claro é que sofri preconceito por ser mulher, total desrespeito por ter sido agredida (durante meu trabalho) e fui mais uma vítima do machismo que ainda vê a mulher no futebol como uma ameaça ou mesmo uma figurante.
Amparada por amigos e colegas de profissão, fui à delegacia e fiz um boletim de ocorrência e exame corpo de delito, que comprovou a agressão. O que fica disso tudo?
Que nós, mulheres, jornalistas esportivas vamos ter muitos obstáculos pela frente, ainda mais quando se está no Espírito Santo, em que a estrutura na maioria das vezes é precária. Mas nós não podemos nos abater. A nossa luta é diária e nós vamos continuar indo aos estádios, porque lá também vai ser sempre o nosso lugar!
Deixo meu meu MUITO OBRIGADA às inúmeras manifestações de apoio que tenho recebido, de pessoas ligadas ao futebol capixaba, ou até que não fazem parte desta esfera, mas compraram a causa feminina. Saibam que cada um de vocês tem sido muito importante para mim! E SEGUE O JOGO!”