Uma mulher por quase 500 mil mortos pela Covid-19 no Brasil
Vestida de preto, com uma máscara PFF2, faceshield e um cartaz em papelão com a frase: “Bem-vindo ++++ 500.000”. Sozinha, diante de apoiadores que aguardavam, no aeroporto de Vitória, a chegada do presidente Jair Bolsonaro, nesta sexta-feira (11/6) em sua primeira visita ao Espírito Santo, a jovem Maria Clara Gama, 27 anos, protestou pelos quase 500 mil mortos pela pandemia da Covid-19 no Brasil.
Moradora de Cariacica e mestranda de Direito na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Maria Clara foi xingada por bolsonaristas que ficaram bem próximos a ela e tomaram o cartaz de suas mãos. Neste momento, ela foi defendida por equipes de jornalistas que estavam no local para fazer a cobertura da chegada do presidente e evitaram que ela sofresse violência ainda maior.
Protestos em todo o Estado – Em outra frente, capixabas também deram seu recado contra o presidente. Com os dizeres “Comida no prato. Vacina no braço. Fora Bolsonaro”, 50 outdoors e dois letreiros luminosos espalhados pelas principais cidades do Espírito Santo e, em pontos estratégicos da Grande Vitória, demarcaram os protestos.
Em São Mateus, norte do Estado, onde Bolsonaro fez a entrega de casas populares, o ato do Movimento dos Sem Terra foi com banda de congo em uma praça onde também havia cartazes, cruzese outdoor de movimentos sociais em protestos contra as mortes na pandemia.
As mobilizações dos capixabas nesta sexta-feira e no último dia 29 de maio deixararam claro que o governo federal e o presidente Bolsonaro não são unanimidade no Espírito Santo e no Brasil. A morte de milhares de pessoas, o descaso com a ciência e o atraso na compra de vacinas por parte do governo federal são contestadas, com veemência, pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Espírito Santo (Sindijornalistas/ES) que irá participar do ato “Solidariedade entre nós e fora Bolsonaro!” no próximo dia 19 de junho. A concentração será às 15h, na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em Goiabeiras, Vitória, e pede-se a doação de 1 kg de alimento não perecível. Recomenda-se seguir os protocolos sanitários com uso de máscara, álcool 70% e distanciamento social.
Violência presidencial contra o jornalismo– Segundo o Relatório da Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil – 2020, elaborado pela Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), o ano que passou foi o mais violento, desde o começo da década de 1990. Foram 428 casos de ataques – incluindo dois assassinatos – o que representa um aumento de 105,77% em relação a 2019.
Para a FENAJ, o aumento da violência está associado à ascensão de Jair Bolsonaro à Presidência da República e ao crescimento do bolsonarismo. A descredibilização da imprensa foi uma das violências mais frequentes: 152 casos, o que representa 35,51% do total de 428 registros ao longo de 2020. O presidente Bolsonaro foi o principal agressor e, dos 152 casos de descredibilização do trabalho dos jornalistas, é o responsável por 142 episódios. Ou seja, quase cem por cento dos casos.
Fotos: Kadidja Fernandes