Romper com a mesmice patronal!
Por Helder Gomes, economista.
Nova data base e o patronato mantém sua cantilena de sempre. Como todos os noticiários indicam, por trás de todo esse choramingo, os empresários ficam mais ricos a cada ano, enquanto as famílias que vivem de seu próprio trabalho amargam com seu poder de compra cada vez mais achatado. Este tem sido o caso das mídias de imprensa capixabas, cujos proprietários estão sempre chorando nas mesas de negociação sindical, no entanto, ninguém abandona um dos ramos mais lucrativos do mercado.
Antecedentes
Desde 2019, a categoria de jornalistas vem perdendo seu poder de compra para a inflação. Lembremos que depois de dois anos sem qualquer reajuste salarial, na data-base de maio de 2021 o INPC-IBGE acumulava 10,24% e o sindicato dos proprietários das empresas jornalísticas só aceitaram reajustar os salários em 4%: ficou 6,00% para trás.
No ano passado o INPC anual acumulou mais 12,47% e o patronato só reajustou os salários em 10,16%, restando mais 2,09% de diferença que, acumulado ao 6,00% anterior, totalizava 8,22% sonegado pelos patrões
Índice necessário
No último ano, de maio/22 a abril/23, a inflação apurada pelo INPC alcançou mais 3,83%. Isso significa que, para repor as perdas acumuladas, os salários da categoria de jornalistas necessitam de um reajuste de 12,47%, índice mínimo necessário para recuperar o poder de compra que detinham em maio de 2019.
São, portanto, 4 anos de perdas salariais consecutivas, alimentando os lucros das empresas de imprensa que operam na região capixaba. É muito tempo perdendo uma parcela crescente dos salários todo mês. Se considerarmos apenas os dois últimos anos, para um/a jornalista que ganhava R$ 3.000,00 de salário mensal, em maio de 2021, por exemplo, perceberemos que deixou de receber R$ 2.160,00, até abril de 2022, mais R$ 3.259,85 de maio/22 a abril/23, totalizando R4 5.419,85 de perdas acumuladas mês a mês. Esse total é quase o dobro do salário inicial.
Piso unificado
Enfatizamos nessa data-base a necessidade de unificação do piso salarial da categoria de jornalistas no Estado do Espírito Santo. Existem profissionais que estão ganhando salários muito abaixo da média de remuneração mensal e isso não pode continuar, pois, daqui a pouco teremos colegas ganhando o salário mínimo oficial, hoje, de R$ 1.320,00. Observe a tabela abaixo, pois, é possível perceber que a unificação do piso tem sido uma reinvindicação básica, elementar, urgente, dada as precárias condições salariais de muitos/as colegas.
Observemos a situação absurda de, em pleno século XXI, termos jornalistas profissionais que percebem salários brutos, sem os descontos formais, em pleno processo de pauperização. Atualmente, a cesta de alimentos básicos, para o mês de maio de 2023, custou aproximadamente R$ 706,06, na cidade de Vitória, segundo o Dieese. Se consideramos, para além dos alimentos, os gastos mensais com aluguel, transporte, energia, telecomunicação, saúde e outras condições mínimas para se viver, não fica difícil perceber o quanto os dados da tabela acima demonstram da desumanidade da remuneração do trabalho de um/a jornalista profissional aqui no estado. Isso, sem contar a necessidade de sua formação continuada e o grau de responsabilidade de sua função nas empresas de comunicação social onde atuam.
Pensando assim, podemos ver que a proposta de unificação do piso, sem qualquer ganho real para o maior piso praticado, de R$ 2.447,83, menos que dois salários mínimos oficiais, é uma reivindicação urgente e mais que necessária.
O Dieese calcula que, com base na Constituição Federal, o salário mínimo necessário para, uma família formada por duas pessoas adultas e duas crianças, viver em condições básicas seria de R$ 6.652,09, em maio de 2023. Isso significa quase três vezes mais que o maior piso salarial pago pelas empresas de comunicação social que operam em nível estadual. Perceba, um casal formado por 2 jornalistas profissionais, que ganham o maior piso salarial da categoria no estado, não conseguem manter dignamente uma família típica da pesquisa realizada mensalmente pelo Dieese.
Imagine as condições de vida de um/a jornalista contratado com um salário de menos de R$ 1.800,00! Essas pessoas vivem acumulando dívidas e gastando boa parte do salário pagando juros e encargos aos bancos.