A Gazeta desrespeita a categoria através do Curso de Residência
Encerram esta semana as inscrições para o Curso de Residência em Jornalismo, promovido há 14 anos pela Rede Gazeta. A iniciativa busca fazer com que formandos ou jornalistas recém egressos dos cursos de jornalismo possam acompanhar a rotina dos jornais, rádios, TV e sites da empresa de comunicação. Porém, após a extinção da obrigatoriedade do diploma de jornalismo para exercer a profissão, a Rede Gazeta vem permitindo inscrições de estudantes de qualquer graduação no curso de residência. Este ano não foi diferente. Isso contraria o que disseram as associações que representam o patronato de comunicação, entre elas a Associação Nacional dos Jornais (ANJ), que na ocasião da queda do diploma vieram a público dizer que as empresas de comunicação iriam continuar contratando os jornalistas diplomados por defenderem a qualificação dos profissionais. Inclusive, esta afirmação gerou um editorial no Jornal Nacional, da Rede Globo.
O Sindijornalistas acredita que o Curso de Residência da Rede Gazeta é uma iniciativa importante, pois proporciona aos novos jornalistas experiência em sua área de atuação. Entretanto, ao permitir que pessoas de qualquer graduação participem do processo seletivo, a empresa deixa claro que não descarta a possibilidade de incluir em seu quadro de funcionários aqueles que não são formados em jornalismo, ou seja, que não têm qualificação profissional para exercer essa atividade. “Jornalismo não é uma profissão meramente técnica, que pode ser aprendida em uma curta experiência dentro de uma redação de jornal. É uma atividade de produção de conhecimento sobre uma determinada realidade, necessitando, portanto, de conhecimentos humanísticos, teóricos e metodológicos prévios”, defende a presidente do Sindijornalistas, Suzana Tatagiba.
O equívoco de atribuir ao jornalismo o rótulo de profissão tecnicista foi um dos argumentos utilizados para derrubar a obrigatoriedade do diploma, que interessa somente às empresas. Com atitudes como as da Rede Gazeta, elas provam que não se importam com a qualidade da informação por elas veiculadas e que podem utilizar a não obrigatoriedade da formação superior em jornalismo para precarizar ainda mais a profissão, por exemplo, contratando profissionais que se submetem a salários bem menores. “Formação e qualidade de informação andam juntas. Um jornalismo formado tem muito mais condição de fazer um trabalho mais analítico, que leve ao leitor a reflexão sobre o assunto abordado”, diz Suzana Tatagiba.