Comissão Nacional da Verdade ouve vítimas da repressão no estado
A Comissão da Verdade dos Jornalistas do Espírito Santo participou da audiência pública promovida na quinta-feira (15/8) pela Comissão Nacional da Verdade (CNV), em Vitória, em que foram ouvidos depoimentos de sete vítimas da repressão durante a ditadura militar no país, de 1964 a 1985.
Em sua fala de abertura, a coordenadora da CNV, a advogada Rosa Cardoso, destacou a importância da realização de audiências nos estados e de serem organizadas de modo a atraírem cada vez mais pessoas, para que ganhe mais visibilidade e força. “É importante que esse processo seja público e que tenha ampla participação popular”, disse Rosa.
O coordenador da Comissão da Verdade dos Jornalistas, Rubens Gomes, disse que o relatório parcial da comissão com informações e depoimentos valiosos para compor a história dos “anos de chumbo” no país já foi encaminhado para a Federação Nacional dos Jornalistas e para a CNV. “Precisamos recontar essa história para não a repetirmos”, enfatizou.
Os depoimentos das sete vítimas da repressão começaram ainda pela manhã. Eles foram ouvidos pelo público e por seis Comissões da Verdade locais, representadas por Rubens Gomes, coordenador da Comissão da Verdade dos Jornalistas do Espírito Santo; Pedro Ernesto Fagundes, da Comissão da Verdade da Universidade Federal do Espírito Santo; Josemar Moreira, coordenador da Comissão da Verdade do Ministério Público Estadual; o deputado Estadual Cláudio Vereza, relator da Comissão da Verdade da Assembleia Legislativa; Francisco Calmon, do Fórum Memória, Verdade e Justiça; Orlando Bonfim Neto, representando os familiares de mortos e desaparecidos.
O primeiro a prestar depoimento sobre a perseguição que sofreu foi o médico Waldir Ferreira, militante de Direitos Humanos e ex-preso político. Em 1964, após o golpe, a rádio onde trabalhava foi invadida. Na época, o então padre foi levado para o conhecido Batalhão da Prainha,Em Vila Velha, onde ficou detido por 20 dias. Quando liberado, foiexpulso da diocese do Espírito Santo. “Eu não podia sair na rua, todo mundo dizia que eu era comunista”. Lembra. Obrigado a sair do estado foi vigiado e perseguindo pelo regime.
Outras vítimas e testemunhas de graves violações de Direitos Humanos cometidas no período da ditadura, também foram ouvidas na audiência. Entre elas a militante Laura Coutinho, na época com 21 anos, foi presa e torturada grávida no final dos anos 60. Juca Alves, ex-preso político, ele e a família foram perseguidos, presos, torturados e tiveram que se exilarem no Chile.
Também Perly Cipriano, atual subsecretário da Secretaria de Direitos Humanos do Espírito Santo, foi preso mais de três vezes entre os anos de 64 e 67. Ele relatou as torturas sofridas pelas mãos de um pastor. Duas outras vítimas presas no Espírito Santo, Francisco Calmon e Jussara Albernaz, foram torturadas e transferidos para o Rio de Janeiro.
Também Anita Wright, filha de Jaime Wright, pastor presbiteriano, testemunhou sobre a perseguição sofrida pelo pai. Durante a ditadura militar, Wright iniciou uma pesquisa que, em 1985, se transformou no famoso livro “Brasil Nunca Mais”.
Os trabalhos da CNV foram até o fim da tarde, na quinta-feira. Outros membros da Comissão da Verdade dos Jornalistas acompanharam os depoimentos durante todo o dia.