Entrevista: Rosane Lopes
Mestre em Comunicação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), socióloga e especialista em Comunicação de Risco pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, Rosane Lopes, que ministrará em Vitória o Curso de Gestão e Planejamento de Comunicação de Risco tem uma vasta experiência em gerenciamento de crise. Trabalhar para a ONU possibilitou viagens por todo o mundo para atuar em situações de emergências, como nas epidemias de pólio, em Angola, e de Dengue, em Cabo Verde. Ainda na África, também trabalhou na questão da influenza aviária, mais precisamente no Egito.
Recentemente, Rosane Lopes, passou pela experiência de gerenciar a crise causada pelos terremotos do Haiti. Antes do curso, que acontece no dia 24 de novembro, e está com inscrições abertas através do link www.sindijornalistases.org.br/curso, jornalistas e estudantes de Comunicação Social poderão conhecer um pouco do que é comunicação de risco, sua importância e atributos necessários para sua prática por meio de uma entrevista concedida por Rosane Lopes ao Sindijornalistas.
Sindijornalistas: O que é comunicação de risco?
Rosane Lopes: Comunicação de risco é um processo de planejamento da comunicação da empresa ou instituições para enfrentar situações de risco e ou crises. É um processo interativo de troca de informação entre pessoas, grupos e instituições sobre a probabilidade e as consequências de eventos adversos. Envolve múltiplas mensagens e múltiplos setores para tornar o risco compreendido pelas audiências. Em caso de emergências, a comunicação de risco eficaz é fundamental para reduzir a probabilidade de rumores e desinformação.
Sindijornalistas: Em quais casos a comunicação de risco é colocada em prática?
Rosane Lopes: Comunicação de risco é um processo para ser planejado em tempos de “paz” para prever as probabilidades de eventos adversos. Ela deve estar presente no planejamento das empresas ou instituições para ser acionada nos momentos de crise.
Sindijornalistas: O que é necessário para um bom gerenciamento de crise?
Rosane Lopes: Planejamento antecipado, transparência, comunicação com agilidade, respeito à preocupação do público e construção de confiança com as audiências. A comunicação feita o quanto antes é a melhor estratégia, porque contribui para o controle da situação e ajuda ganhar confiança do público.
Sindijornalistas: Qual contribuição que as novas mídias, como as redes sociais, têm a dar para o trabalho de comunicação de risco?
Rosane Lopes: As novas mídias são fundamentais. Verificamos no Haiti que elas tiveram um papel importante, principalmente SMS. As redes sociais devem ser consideradas no planejamento da comunicação. Elas contrapõem a hegemonia das pautas da mídia tradicional. Inclusive, de todos os casos de gerenciamento de crise que vivenciei, sem dúvida o mais marcante foi o do Haiti, com o terremoto de grande dimensão, que arrasou cidades e deixou milhões de mortos e feridos.
Sindijornalistas: Quais são os atributos essenciais para o profissional que quer trilhar esse caminho?
Rosane Lopes: Motivação, domínio do conteúdo, capacidade de reter atenção dos ouvintes, capacidade de argumentar em situações de pressão e de se manter calmo diante de situações adversas e de estresse.
Sindijornalistas: Quando as empresas/ instituições passaram a se preocupar mais com essa questão?
Rosane Lopes: A ideia que define a fronteira entre os tempos modernos e o passado é o domínio do risco: a noção de que o futuro é possível de ser previsto, que os seres humanos não são passivos ante a natureza, podendo compreender o risco, medi-lo e avaliar suas consequências. A capacidade de definir o que poderá acontecer no futuro e de optar entre várias alternativas é central às sociedades contemporâneas. As teorias relativas ao risco e à sociedade de risco, deixam claro que a substituição da noção de “fortuna” pelo conceito de Risco é constitutiva da modernidade ocidental. A clássica obra de Ulrick Beck, A Sociedade de Risco (1986), escrita na Alemanha após a catástrofe de Chernobyl, marca o momento decisivo, uma transição na qual os perigos e os riscos tomaram amplitude e desenharam os contornos da nova sociedade. Quando se fala em sociedade de risco não se pode esquecer da globalização: os riscos são democráticos, afetando nações e classes sociais sem fronteiras.
Sindijornalistas: Em quais Estados ou regiões do Brasil as empresas/ instituições têm investido mais na comunicação com objetivo de gerenciar crises? A que se deve o avanço em alguns locais e em outros não?
Rosane Lopes: As regiões que tiveram acidentes recentes estão com preparativos avançados para esta questão. Podemos destacar o município do Rio de Janeiro, com instalações de um sistema de alerta e alarme com sirene nas principais áreas de risco para chuvas fortes.
Sindijornalistas: Em geral, como a senhora avalia as faculdades de Comunicação brasileiras no que diz respeito à formação de jornalistas aptos a gerenciar crises?
Rosane Lopes: O mundo todo está se preparando para situações de risco. Eu vejo que no Brasil não é diferente. Todos os setores estão debatendo esta necessidade.