“Os meios de comunicação desempenham importante papel no golpe”, afirma presidente eleita da Fenaj
Muitas lutas tem pela frente a nova presidenta da Federação Nacional de Jornalismo, Maria José Braga: a mobilização para a aprovação da PEC do Diploma e do projeto de lei que cria o Piso Nacional dos Jornalistas; atualização da regulamentação da profissão; combate às diversas formas de precarização das relações e condições de trabalho; e defesa da manutenção do emprego, entre outras.
Apesar de nove sindicatos de jornalistas serem presididos por mulheres e haver mulheres em praticamente todas as direções do país, a dirigente é a segunda mulher eleita à presidência da Fenaj nos 70 anos de história da entidade. Para a sindicalista, a concentração da propriedade dos meios de comunicação, que é grande no Brasil, representa um risco permanente para a democracia.
Em entrevista ao jornal Unidade, Maria José disse que a pluralidade e diversidade de vozes é fundamental para que o debate sobre as ideias e ações importantes para a sociedade ganhem a esfera pública. “Na atual conjuntura, com um golpe político em andamento, com o recrudescimento do pensamento conservador e com uma agenda de retirada de direitos sociais e trabalhistas, a concentração midiática impede o esclarecimento da população e, portanto, uma reação à altura”, analisa. Leia a entrevista completa:
Unidade: O que representa para você ser a segunda mulher eleita à presidência da Fenaj nos 70 anos de história da entidade?
Maria José Braga: É uma grande honra ter sido eleita presidenta da Fenaj porque o grupo de Sindicatos de Jornalistas que apoiam a atual direção da Fenaj, e que compuseram a Chapa 1, confiou no meu trabalho de sindicalista ao me indicar para a presidência. E fui eleita pelo voto direto de milhares de jornalistas brasileiros. Essa eleição tem um caráter político importante porque as mulheres já são maioria na categoria e conquistaram a representação da sua entidade nacional. Mas tem também um valor simbólico: ainda que exista machismo no jornalismo, novamente uma mulher vai ocupar a presidência da Fenaj.
Unidade: As mulheres têm forte presença no jornalismo, atualmente são maioria no estado de São Paulo, mas por que não têm espaço ampliado também nas direções dos sindicatos?
MJB: As mulheres já são maioria na categoria em todo o país e têm um destacado papel no movimento sindical dos jornalistas. A diretoria eleita da Fenaj, além da presidenta, tem outras cinco mulheres na Executiva, num total de sete componentes titulares e dois suplentes. Nos sindicatos de jornalistas a participação da mulher também é grande. Fui presidente do Sindicato dos Jornalistas de Goiás no final de década de 1990 e não fui a primeira. Atualmente, nove sindicatos de jornalistas são presididos por mulheres e há mulheres em praticamente todas as direções.
Unidade: Quais serão as ações e temáticas prioritárias da sua gestão?
MJB: Dividimos nossa atuação em eixos estratégicos de atuação. Os principais eixos são: defesa da regulamentação da profissão; defesa do emprego e de condições dignas de trabalho e de vida; segurança dos jornalistas; democratização dos meios de comunicação e atuação internacional.
Cada eixo implica ações múltiplas e diversas e muitas delas devem ser planejadas e desenvolvidas em parceria com os sindicatos de jornalistas do país. Cito apenas algumas que são muito importantes: mobilização para a aprovação da PEC do Diploma e do projeto de lei que cria o Piso Nacional dos Jornalistas; atualização da regulamentação da profissão; combate às diversas formas de precarização das relações e condições de trabalho; e defesa da manutenção do emprego.
Unidade: Sobre o assédio sexual e moral sofrido, sobretudo, pelas jornalistas, quais medidas a Fenaj pretende tomar?
MJB: A prática do assédio moral e sexual não é nova e as mulheres são os alvos preferenciais dos assediadores. Felizmente, as mulheres têm tido mais coragem de denunciar, mas ainda esbarramos na fragilidade da legislação, que não é nada clara na definição das agressões e das penas para os agressores. Então, uma das lutas é para que a legislação seja melhorada. A Fenaj, junto com os Sindicatos de Jornalistas, deve fazer campanhas de esclarecimento porque há muita gente que não consegue identificar que está sendo assediada moralmente, além de desenvolver ações de apoio às vítimas.
Unidade: Nesse contexto de golpe à democracia e de retrocessos de direitos, como você avalia a cobertura da mídia?
MJB: Não quero fazer uma avaliação pessoal, mas reforçar a posição da FENAJ, que desde dezembro de 2015 alertou a sociedade brasileira para o papel que os meios de comunicação hegemônicos estavam desempenhando na construção do golpe. A Fenaj relembrou a declaração da ex-presidente da Associação Nacional dos Jornais (ANJ), Judith Brito, que disse que os veículos de comunicação estavam fazendo o papel de oposição (ao então governo Lula), porque os partidos de oposição eram fracos. Neste ano, por mais de uma vez, a FENAJ disse publicamente que os veículos de comunicação abandonaram o jornalismo na cobertura da vida política para fazer o papel de oposição e lamentou que os jornalistas tivessem sido colocados no centro do golpe porque eles são o lado frágil dentro das empresas. A democracia está sendo aviltada, a soberania do país está em risco, os corruptos estão no poder e a maioria do povo continua acreditando que um único partido é a causa de todos os males. Nós fazemos a defesa do jornalismo como atividade fundamental para as sociedades democráticas e reivindicamos que ele volte a ser praticado no país pelos grandes veículos de comunicação, também na cobertura da vida política.
Unidade: A concentração dos meios de comunicação representa um risco maior nessa conjuntura?
MJB: A concentração da propriedade dos meios de comunicação, que é grande no Brasil, representa um risco permanente para a democracia. A pluralidade e diversidade de vozes é fundamental para que o debate sobre as ideias e ações importantes para a sociedade ganhem a esfera pública. Na atual conjuntura, com um golpe político em andamento, com o recrudescimento do pensamento conservador e com uma agenda de retirada de direitos sociais e trabalhistas, a concentração midiática impede o esclarecimento da população e, portanto, uma reação à altura.
Unidade: Qual a sua expectativa em relação à democratização das comunicações?
MJB: Nos últimos 13 anos, tivemos avanços consideráveis em vários setores da vida nacional, como distribuição de renda políticas de inclusão social e outras, mas a concentração dos meios de comunicação não foi tema do governo, assim como não foi tema a necessidade de uma revisão geral da legislação e dos regulamentos da área. Por isso, estamos constantemente afirmando a necessidade de um novo Marco Regulatório das Comunicações, que dê conta das mudanças tecnológicas, mas sempre com o olhar na necessidade da sociedade brasileira e não dos atores dos negócios das comunicações.
Fonte/Entrevista: http: www.sjsp.org.br