Jornalista Sindical sim, com muita honra!
Por Tania Trento (*)
Todo jornalista na minha época, década de 1980, começava pela editoria de polícia. Era uma espécie de batismo. Comigo e algumas colegas não foi diferente e a gente frequentava a Chefatura de Polícia onde a sala de imprensa era um cubículo. Primeiro, trabalhei no Jornal A Tribuna que, após fechado, voltara trazendo a nova tecnologia dos computadores, em substituição a máquinas de escrever.
Em seguida fui trabalhar na Rádio Cariacica, no Programa Nilton Gomes/ Jornal da Cidade e, por fim, na TV Vitória (Rede Manchete).
O salário era uma merreca, não muito diferente de hoje. Não tinha verba de roupa e nem essa tietagem de falso glamour que destrói a verdadeira alma do repórter na sociedade. Mas a cobrança era grande.
Em 1998, os radialistas na TV Vitória fizeram uma greve e da qual participei ativamente, mesmo depois do diretor Américo Buaiz Filho ameaçar, também os jornalistas, de demissão. Na volta ao trabalho foi negociada uma estabilidade de 4 meses e quando acabou, fui demitida.
Conto esse fato com muito orgulho, pois a participação naquela greve me transformou na jornalista sindical que me tornei, pois o meu emprego seguinte foi na Central Única dos Trabalhadores (CUT/ES), onde permaneci por três anos e meio.
Em 1992, durante uma greve geral convocada pela Central, conheci um empresário que havia trazido do Japão, um computador, um scanner de mão e um programa de editoração chamado Ventura. Demorava três horas para abrir.
Conhecer um programa de editoração eletrônica, quando ainda fazíamos boletins na base da paica, clicheria de fotos e títulos revelados em papel fotográfico, me deixou fascinada. Ver sair de uma impressora um boletim A4 com cabeça, título, texto e uma foto, me abriu um horizonte de oportunidades.
No ano seguinte pedi para sair da CUT, peguei a grana da rescisão e comprei um computador 286 e uma impressora a lazer de 5 mil dólares que imprimia os boletins no vegetal, eliminando o fotolito, barateando a impressão gráfica.
Passei muitas noites trabalhando para aprender a usar os programas Pagemaker e Corel Draw. Não havia curso, usava a ajuda em inglês dos próprios programas. Eu sentia que aquilo era o futuro, principalmente para os jornalistas.
E em 23 de abril de 1993, eu registrava a T&T Comunicação e Publicidade para atender aos sindicatos que precisavam de notas fiscais para justificar as despesas com boletins e jornais, editais, spot pra radio e comercial pra TV. Desde então, sempre estive em home office.
No primeiro ano quase fali. É que os sindicatos tinham muitas atividades de março a novembro. De dezembro até o carnaval era uma paradeira geral.
Um curso rápido e gratuito na Escola Técnica Federal (IFES hoje) me ensinou a manter a microempresa aberta, a negociar contratos, a precificar trabalho, a economizar, a poupar e investir em equipamentos.
Dei baixa na T&T em maio de 2021. Foram 28 anos de muitas experiências, às vezes frustrantes, mas outras exitosas e que fizeram a diferença nos sindicatos de metalúrgicos, petroleiros, papeleiros e químicos, professores da Rede Pública, asseio e limpeza pública, eletricitários, portuários, radialistas, trabalhadores em telecomunicações, vestuário, vigilantes, engenheiros e muitos outros. Aprendi demais com o grande professor de comunicação popular Vito Gianotti, falecido em 2015.
Paralelamente na direção da T&T, entre os anos de 2000 a 2005, estive à frente da Secretaria de Comunicação de Viana e na assessoria de comunicação da Prefeitura de Vitória, onde aprendi muito com a comunicação via Web, no Vitória on-line.
Eu vivi intensamente todas as radicais mudanças tecnológicas que tivemos nos últimos 30 anos, partindo da máquina de escrever para o computador, do telefone de tecla e da máquina fotográfica Olympus Trip para o Smartphone, do Telex, Fax para a internet, o E-mail, as redes sociais e os App de mensagens. Meu primeiro e-mail foi do Sebrae, em 1996.
Quando passei a me identificar como jornalista sindical muitos colegas de profissão olhavam atravessado, pois há um preconceito no nosso meio em relação a quem foi para o terceiro setor, principalmente para sindicatos. Fazer uma comunicação popular, alternativa aos grupos de mídia tradicionais, é visto como não ter tido competência para ficar nas redações.
Eu digo que é mais difícil ser jornalista sindical, pois esse profissional tem que ser pauteiro, repórter, revisor, editor e, junto, ter uma visão política ampliada para os fatos. Ele tem que tocar a comunicação.
Eu me tornei militante da luta da classe trabalhadora e feminista participando dos movimentos de mulheres contra a violência doméstica. E, ao contrário dos meus colegas de redação, passava os finais de semana e todos os feriados como Natal, Ano Novo, Carnaval e dia das mães, em casa, viajando ou com a família, sem escalas, sem stress das chefias, sem o ambiente tóxico e competitivo das redações, mesmo tendo a responsabilidade gigante de tocar a comunicação dos sindicatos de forma autônoma. E isso sem ser explorada.
Continuo trabalhando, fazendo podcasts, prestando assessoria para sindicatos e, agora, morando em Marechal Floriano.
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*Tania Trento, 61 anos, formada em Comunicação Social jornalismo na Ufes (1986). Foi diretora da T&T Comunicação e Publicidade entre 1993 a 2021, Secretária de Comunicação da Prefeitura de Viana em 2001. Trabalhou na Assessoria de Imprensa da PMV de 2002 a 2005. Foi diretora no Sindijornalistas/ES. Hoje produz lives e o podcast Diálogos da Educação para o Sindiupes e assessora o Sinttel-ES – Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações do ES.