Jornalistas Debatem Cobertura Econômica na Mídia
O Ciclo de Palestras sobre Sustentabilidade, realizado pelo Sindijornalistas em parceria com a Arcelor Mittal Tubarão, chegou a sua quarta edição no dia 10 de novembro com a palestra Cobertura Econômica na Mídia. O evento, que aconteceu no Radisson Hotel, contou com a palestra do jornalista Reinaldo Canto, que atua como professor de Gestão Ambiental na Faculdade Paulista de Pesquisa e Ensino Superior (FAPPES), consultor, palestrante, articulista e colaborador do site Envolverde e de mídias ambientais, além de redator de relatórios de sustentabilidade e colunista da Carta Capital. Também foram convidados para debater o assunto a editora do caderno de economia do jornal A Gazeta, Elaine Silva; o repórter de economia de A Tribuna e colunista da Coluna Dia a Dia, neste mesmo jornal, Rafael Guzzo; e o coordenador do curso de Economia da Universidade de Vila Velha (UVV), Mário Rodrigues de Vasconcelos Neto.
Reinaldo Canto ministrou a palestra “A Cobertura Econômica na Mídia e os Desafios da Sustentabilidade”. Ele ressaltou que é impossível abordar o assunto economia sem entrar na questão da sustentabilidade, que, para ele, é peça fundamental para os desenvolvimentos econômico e social. Reinaldo Canto citou como exemplo a exploração do pré-sal. “Ao mesmo tempo que o pré sal é bom para a economia do país e dos Estados produtores, ele pode trazer problemas, como a atração de mão de obra desqualificada que não irá ser absorvida pelo mercado de trabalho, como aconteceu em lugares como Macaé, no Rio de Janeiro, e Mucuri, na Bahia. Isso deve ser abordado nos meios de comunicação, defende Reinaldo.
De acordo com ele, muitas vezes, ao fazer algumas matérias relacionadas à economia, a imprensa acaba limitando demais o assunto, como no caso da revolta popular no Egito que derrubou o presidente Mubarack. “O que aconteceu no Egito não foi simplesmente uma revolta repentina. O país viu o preço do alimento aumentar 40% em apenas seis meses, e isso com certeza foi um dos motivos da reação popular. Porém, não vi a imprensa abordar isso em lugar nenhum”, recorda Reinaldo, que aponta como algumas das consequências da degradação ambiental o aquecimento global, mudanças climáticas, esgotamento de recursos naturais e perda de área agricultável.
Ainda sobre a cobertura limitada em algumas matérias, Reinaldo citou também pautas tradicionais, como a instalação de indústrias. “Normalmente a notícia fica somente na quantidade de vagas de emprego que o novo empreendimento vai gerar, esquecendo de falar, por exemplo, sobre o uso intensivo de água e energia”, analisa o jornalista.
A jornalista Elaine Silva apontou como uma das maiores dificuldades de fazer coberturas relacionadas à economia atrelada à sustentabilidade o fato de não haver no Espírito Santo nenhuma capacitação e especialização para jornalistas nessa área. Segundo ela, há, inclusive, uma crise sobre o que cabe a cada editoria. “As vezes é complicado analisar se a pauta é de economia ou de cidades, por exemplo”, afirma.
A editora de A Gazeta recorda que, mesmo diante das dificuldades citadas por ela, o jornal fez grandes matérias sobre impactos ambientais no Espírito Santo, como no caso da instalação da empresa chinesa Baosteel, em Anchieta. “Seria construída uma barragem na região, atrapalhando o sistema agrícola. Isso foi denunciado por A Gazeta, causando um desconforto entre a siderúrgica e o Governo do Estado, o que contribuiu para a desistência da empresa em se instalar aqui”, recorda Elaine Silva.
Para o repórter e colunista de A Tribuna, Rafael Guzzo, outra dificuldade na cobertura é cativar o público em relação a este tipo de assunto. “Há também outro grande desafio, que é colocar a sustentabilidade na mesma dimensão espacial que as informações sobre vagas de emprego, por exemplo”, afirma Guzzo.
Assim como Reinaldo Canto, o coordenador do curso de Economia da UVV também acha que, muitas vezes, as coberturas são limitadas. “A imprensa destaca muito o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), mas não fala em como essa riqueza está concentrada na minoria”, diz Mário. Para o estudante de Comunicação Social da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Frederico Carneiro, iniciativas como a palestra sobre Cobertura Econômica da Mídia são muito importantes. “É a possibilidade que os palestrantes têm de falar de seu próprio trabalho e estarem prontos para ouvir críticas e sugestões sobre a prática jornalística vigente nas redações. Isso promove reflexão sobre a atividade profissional do jornalista”, relata Frederico.