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Jornalistas se unem em protesto contra onda de agressões da PM

Repórteres fotográficos, cinematográficos, redatores e dirigentes sindicais se reuniram no dia 28 de outubro, no auditório Vladimir Herzog do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP), para denunciar as agressões contra os profissionais por parte da Polícia Militar de São Paulo, intensificadas a partir de 13 de junho. Esta atividade antecedeu ato público realizado na praça Roosevelt, no centro de São Paulo.

A coletiva e debate, organizados pelo SJSP, contou com a presença de jornalistas vítimas de violência como Sérgio Silva, que perdeu 100% da visão do olho esquerdo devido ao disparo de uma bala de borracha, além de outros agredidos que relataram a truculência deliberada da PM.

Fizeram parte da mesa e do debate o presidente do SJSP, José Augusto Camargo (Guto), o diretor-executivo da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Guilherme Alpendre, o diretor da Associação dos Repórteres Fotográficos de São Paulo (Arfoc/SP), Esdras Martins, o presidente da Associação dos Jornalistas Veteranos no Estado de São Paulo (Ajaesp), Amadeu Mêmolo, e a secretária de Comunicação da Central Única dos Trabalhadores de SP (CUT/SP), Adriana Magalhães.

Barrar a violência
Guto enfatizou a importância dos fatos e, segundo ele, episódios tão violentos assim só aconteceram no período da ditadura, quando jornalistas foram mortos, torturados e muitos até hoje se encontram desaparecidos.

“A questão aqui é política porque não existe nenhuma justificativa para tal violência contra profissionais que têm o dever e a liberdade de relatar fatos em Estado Legítimo de Direito, ao contrário dos tempos dos militares, que era um Estado Ilegítimo, marcado pela censura. “A maior parte da violência foi incitada pela polícia militar portanto as autoridades têm que entender como um problema político e as empresas de comunicação precisam se envolver na discussão e criar uma política de segurança profissional. Só a repercussão deste atos é que vai impedir novos casos”, disse o presidente do SJSP.

Números alarmantes
De acordo com os dados da Abraji, o aumento de violência contra jornalistas tem sido considerável deste as manifestações de 13 de junho. Neste período, foram registradas 102 vítimas – incluindo agressão, prisão, hostilidade e apreensão de equipamentos. O diretor-executivo da Abraji apresentou os mais recentes dados estatísticos de violência no país e citou o estado de São Paulo como o recordista. “Dos 102 casos em todo o Brasil, 39 aconteceram aqui, sendo 38 na capital e uma em Campinas. Em segundo lugar está o RJ com 24 agressões “, relatou Guilherme.

Bala de borracha cega
O caso mais grave desde que a violência contra jornalistas começou, em 13 de junho, é o do fotógrafo frellancer da Agência Futura Press, Sérgio Silva, que perdeu 100% da visão do olho esquerdo devido ao disparado de uma bala de borracha por parte da PM durante cobertura de manifestação.

Ao relatar sua história, Silva contou que vive uma fase difícil de readaptação cotidiana devido à mudança brusca que ocorreu em sua vida. “A reflexão que fiz é de que há um abuso de autoridade por parte do Estado, porque diante de tantos casos já ocorridos não há nenhuma posição da Secretaria de Segurança Pública. A prática da PM contra os jornalistas tem sido a mesma adotada nas periferias. Gostaria de citar aqui o caso de outra colega, também vítima da violência que, mesmo ajoelhada e segurando um equipamento profissional, foi escolhida como alvo. Para mim, isso configura uma “raiva” contra a imprensa porque quem controla esses homens é o Estado, que é o mesmo que arma e educa”, desabafou Sérgio.

Reação
O representante da Arfoc/SP, o fotógrafo Esdras Martins, disse que a Associação já está conversando com membros da Secretaria de Segurança Pública para tentar solucionar o problema. Uma primeira reunião ocorreu e ficou acordada a criação de um curso para os profissionais de imprensa ministrado pelo batalhão da PM. Um segundo encontro deve ocorrer no próximo dia 5 de novembro.

“Todo dia acontece alguma coisa, um caso novo, por isso estamos fazendo essa interlocução com a Secretaria, para que se chegue a uma ação concreta de preservação da liberdade de imprensa e de garantia de seu exercício profissional”, contou Esdras.

“Violência dolosa”
O presidente da Ajaesp, Amadeu Mêmolo, que viveu o período de censura militar contra a imprensa, ressaltou que não concorda com os que dizem que ações da PM são resquícios da ditadura. “Dizer que atitudes truculentas como essas são resquícios é um equívoco, para mim ainda é ditadura. A concepção do Estado, no que se refere a polícia ainda é militarizada. O principal é encontrar a origem desta violência que, ao meu ver, é “dolosa”. E isso é muito sério”, argumentou.

Solidariedade
A secretária de Imprensa e Comunicação da CUT/SP, Adriana Oliveira Magalhães, que também compôs a mesa de debate, se solidarizou a causa e disse que a Central, que representa os trabalhadores e trabalhadoras de todas as classes, entre elas a dos jornalistas, apóia a luta pelo fim da violência contra os profissionais. “Nós da Central, como representantes de diversas categorias que também sofrem as mais variadas agressões consideramos este caso um duplo atentado. Um contra o profissional e outro contra a democracia, que é pela qual o profissional de comunicação trabalha”, completou Adriana.

Ato Político
Participaram da coletiva jornalistas de diversos veículos como ABI (Associação Brasileira de Imprensa), Agência Brasil, O Globo, Record, TV Brasil EBC, TVT, TV Gazeta, Folha de S.Paulo, Rádio Itatiaia, entre outros. Além de Guto, o SJSP esteve representado pelos seguintes dirigentes: o secretário geral, André Freire; a secretária de Comunicação, Lilian Parise, o adjunto, Alan Rodrigues; a secretária de Ação e Formação Sindical, Telê Cardim; a secretária de Relações Sindicais e Sociais, Evany Sessa, a secretária de Finanças, Cândida Vieira, o secretário do Interior e Litoral, Edvaldo Almeida (Ed), os diretores adjuntos de Interior e Litoral, José Eduardo de Souza e Fabiana Caramez. Os dirigentes Carlos Eduardo Bazilevski Aragão, Vitor Ribeiro e Wladimir Miranda também acompanharam a atividade, além dos profissionais da Comunicação do SJSP.

Em seguida, cerca de 200 profissionais participaram de ato político na Praça Roosevelt, região central de São Paulo.

Fonte: Sindicato dos Jornalistas de São Paulo