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Pequeno recorte do recente fazer jornalístico no ES

Por Luiz Vital (*)

O desafio aqui é produzir um rápido rascunho da trajetória recente do fazer jornalístico por essas terras de Maria Ortiz, a propósito do Dia do Jornalista, neste ano de 2024. Trago apenas alguns apontamentos com observações distanciadas no tempo, com breves exercícios de memória que não carregam qualquer pretensão historiográfica. Tampouco, não pretendo nem passar perto de ser um resumo de pesquisa sobre uma atividade profissional relevante no contexto de seu tempo e espaço. Então, aqui não cabem retrospectivas, balanços, ensaios, linhas do tempo, indicadores, projeções. Afinal, não temos tempo; a data que homenageia os jornalistas é agora, é já, é no dia 7 de abril. Feita a observação inicial, agora é tentar responder ao desafio proposto pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Espírito Santo (Sindijornalistas). Já que eu também “venho de longe”, como diria o excelente jornalista e escritor José Trajano, vamos lá.

O fazer jornalístico no estado é uma atividade para lá de centenária –  . O Estafeta e o Correio da Victoria, os primeiros, datam de 1840. Pode-se dizer que muito tempo depois, o jornalismo entre os capixabas, enfim, começou a ganhar empoderamento profissional na virada dos anos 1970 e 1980, sempre impulsionado pelos movimentos assertivos de um sindicato conectado às transformações relacionadas à cidadania e aos direitos no mundo do trabalho. Ainda se vivia no Espírito Santo um período histórico romantizado da atividade jornalística, com poucos direitos e muito trabalho, compensado pelas boêmias e divertidas celebrações coletivas após as jornadas diárias.

Era ainda uma época em que o estridente barulho tic-tac das máquinas de escrever tornava sedutor o trabalho nas enfumaçadas atmosferas das poucas redações existentes. Ali, jovens repórteres, recém-saídos das escolas de comunicação – igualmente recém-criadas, tendo a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) como pioneira –, se misturavam aos experientes profissionais que esbanjavam sabedoria e se tornavam verdadeiros mestres de novas gerações. Gente que conhecia os caminhos da notícia, que dominava com extrema habilidade as técnicas da produção jornalística mesmo distante do ambiente acadêmico, e que se transformava em professores com os seus saberes e vivências particulares. Essa saudável e produtiva convivência resultava na consequente transição do jornalismo capixaba entre o romântico e suas lições fundamentais, e o inevitável e necessário profissionalismo que chegava definitivamente.

Os jornais impressos ainda eram o carro-chefe do jornalismo capixaba, com profissionais influentes e qualificados, com elevada sagacidade para acesso a fontes diversas de informação, com aprimorados e modernos métodos e técnicas de apuração, e com textos bem construídos que atraiam mais leitores. Não por acaso, muitos, naquela época deixaram o Espírito Santo para brilhar no jornalismo em outros centros do país. Nessa época, a fotografia também ganha mais destaque na produção diária, os veículos aumentam suas equipes, modernizam seus equipamentos, os profissionais se qualificam e a imagem torna-se um componente essencial e indispensável na produção da notícia.

Era época de acirrada disputa diária pelos leitores entre A Tribuna e A Gazeta, uma fase desafiadora e encantadora para os profissionais da época, em que os jornais impressos se esgotavam nas bancas nas primeiras horas da manhã – alguns alcançavam tiragem diária de cerca de 100 mil exemplares. Época em que a grande reportagem desafiava os repórteres, mobilizava pauteiros e instigava a criatividade de editores. Época em que os prêmios de jornalismo motivavam novas e mais qualificadas produções.

Por esse período, não faz tanto assim, ainda não havia a presença do jornalista na função de assessor de imprensa no setor privado e, também, nas instituições públicas. Empresas especializadas em assessoria de imprensa, nem pensar. Era algo quase inimaginável e que hoje se tornou um segmento consolidado. A profissionalização experimentada nas décadas bem recentes, também impulsionou a presença da mulher no universo da atividade jornalística. Certamente, uma pesquisa cuidadosa sobre o tema comprovaria essa transformação e que é somente perceptiva.

A automação dos processos industriais, a informatização das redações, a produção de conteúdos digitais, a telefonia móvel, a internet, são transformações cruciais que balizaram quebras de paradigmas em meados dos anos 1980, transformando acentuadamente as rotinas de produção da notícia no Espírito Santo. Com o fim das máquinas de escrever nas redações, decretado pelas novas tecnologias, e a criação de redações em rede, como não lembrar de experimentados repórteres que temiam, injustificadamente, o igual fim do chamado “furo de reportagem”, diante de inúmeras possibilidades de compartilhamento do conteúdo produzido individualmente, e que ia além da relação direta e negociada entre repórter e editor.

Naqueles anos, as TVs Gazeta, Tribuna e Capixaba, e também a TVE, consolidavam-se no jornalismo regional com aumento expressivo da sua produção de conteúdo. Se o telejornalismo avançava em tecnologia e recursos humanos qualificados, o radiojornalismo também evoluía e ganhava nova dimensão e alcance, com as rádios Espírito Santo e Gazeta, notadamente. Depois, já nos anos recentes, o rádio local avança mais com as emissoras especializadas exclusivamente em jornalismo, como a CBN e a BandNews. O jornalismo digital no Espirito Santo ensaiava seus primeiros passos na década de 1980 com o Gazeta Online para, logo depois, explodir com diferentes portais de notícias, inclusive no interior capixaba.

Depois, mais recentemente, chegam as redes sociais em diferentes plataformas que potencializam a produção da notícia com inacreditável instantaneidade até então. Vale ressaltar que em todo esse processo recente de transformação do jornalismo capixaba é preciso reconhecer a presença marcante do Sindijornalistas/ES como vetor de mudanças nas diferentes estruturas formais da produção de notícias no Espírito Santo. O seu peso político, suas ações e suas estratégias foram fundamentais para o devido reconhecimento da dignidade profissional do jornalista, a partir da valorosa representatividade sindical que construiu – outrora muito maior, é verdade –, e que tornou a entidade uma referência de defesa de valores e de ética para a sociedade capixaba. Então, fico por aqui nessa quase memória, só para copiar a expressão do brilhante jornalista e escritor Carlos Heitor Cony. E viva o Dia do Jornalista!

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*Luiz Vital é jornalista, foi repórter especial e editor de A Gazeta, e assessor de imprensa da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Integra a seção de comunicação do Programa de Monitoramento da Biodiversidade Aquática (PMBA/Ufes).