Sindicato dos Jornalistas, 40 anos de muita resistência, união e luta
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Espírito Santo (Sindijornalistas/ES) está comemorando 40 anos de fundação, momento em que reforça seus compromissos com a defesa da formação e da valorização profissional, pautando-se por valores como ética, resistência, união e prática de ações de interesse da sociedade. Consolida sua trajetória, iniciada em setembro de 1979, um dia depois de receber sua carta sindical, e mantém a defesa da categoria e a formação profissional como bandeiras políticas que traz consigo desde a criação da Associação Profissional dos Jornalistas Profissionais do Espírito Santo, fundada em 1954.
O Sindijornalistas/ES deu posse à sua primeira diretoria, encabeçada pelo jornalista Rogério Medeiros, no mesmo ano em que ocorreu a formatura dos primeiros jornalistas graduados pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) no Curso de Comunicação Social. Atuou ativamente, à época, em torno da reivindicação nacional para que o diploma fosse obrigatório no exercício do jornalismo. Ao longo dos seus 40 anos, tem mantido um trabalho contínuo em defesa da qualidade do ensino, ação que desenvolve em parceria com a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), junto a cursos de comunicação em todo o país.
Outras lutas históricas
Mais que a intransigente defesa dos direitos da categoria, o Sindijornalistas/ES participa de diversas ações político-sociais, na defesa da ética e da democratização dos meios de comunicação, como lembra Suzana Tatagiba, presidente da entidade por quatro mandatos, atual secretária de Formação da entidade, e diretora da Fenaj. Ela destaca a luta pelo fim da ditadura civil-militar e, naquele período, a formação, na sede do sindicato, do Comitê de Solidariedade às Vítimas das Ditaduras na América Latina. Tristes e difíceis tempos de censura à imprensa e de perseguição a jornalistas.
Além da campanha pelas das eleições Diretas-Já, para presidente da República nos anos 1980, o sindicato atuou em movimentos pela ética na política, reforma agrária, democratização da comunicação, além de ações contra a privatização dos
serviços públicos. Na mesma década, diz Suzana, o Sindijornalistas/ES participou do movimento regional “Renúncia Já,” junto com diversas entidades sindicais, denunciando o então governador Albuíno Azeredo que “não conseguia gerenciar o governo do Espírito Santo”. O Sindijornalistas/ES teve participação decisiva na criação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e, ainda em termos regionais, atuou em ações contra a privatização da Vale, então Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), e da siderúrgica de Tubarão (CST).
Suzana Tatagiba, que ocupou a direção da entidade por quatro gestões e que, atualmente, ocupa uma coordenadoria sindical, fez a seguinte avaliação: “primeiro, no país, a ter um delegado sindical e a conseguir um piso salarial por meio de acordo coletivo.
Ao longo de sua trajetória, o sindicato encampou diversas greves, sendo uma das mais longas, a do jornal A Tribuna, em 1983 quando os jornalistas Chico Flores e Romero Mendonça fizeram uma greve de fome e trabalhadores colocaram em circulação várias edições do jornal Tribuna Livre, porta-voz do movimento. Em represália à greve, o grupo João Santos fechou o jornal, que seria reaberto tempos depois, em novo formato e com nova equipe.
Na luta por melhores salários e condições de trabalho também ocorreram, nos anos seguintes, greves na Rádio Espírito Santo, TV Educativa, Rede Gazeta, TV Capixaba e TV Vitória.
O Sindijornalistas/ES continua mantendo práticas conjuntas com entidades parceiras como o Sindicato dos Radialistas e o Sindicato dos Trabalhadores e Servidores Públicos do Estado do Espírito Santo (Sindipúblicos) e, na questão nacional, atuando na defesa do Estado Democrático de Direito, contra a Reforma da Previdência e Reforma Trabalhista e contra a ascensão de políticos fascistas, dentre outros temas caros à sociedade.
Como ressaltou Suzana Tatagiba a união da categoria é fundamental para enfrentar, resistir conseguir vencer os desafios diários no jornalismo. “Cada um pode estar no seu canto mas somos bem unidos. Não há revanchismo. Nunca tivemos nenhum problema sério nesses 40 anos ou de gravidade de disputas pessoais ou de interesses escusos, tanto na entidade quanto na categoria. Existe uma unicidade, com respaldo junto a categoria e na sociedade”. A união dos jornalistas capixabas resultou em conquistas históricas, como ressaltou ao dizer que o Sindijornalistas/ES foi o primeiro no país a ter um delegado sindical e a conseguir um piso salarial por meio de acordo coletivo.
Se hoje convive diariamente com intensa precarização, travestida em acúmulos de função, baixos salários e fechamento de postos de trabalho, a categoria, de maneira geral, pôde sentir os sinais das adversidades trabalhistas pelos fins de 1997, quando empresas intensificaram cobranças que ultrapassavam responsabilidades no desempenho profissional e na jornada de trabalho sem compensação salarial. No entanto, em sua prática política de resistência a desafios e a ataques a direitos trabalhistas, o sindicato tem conseguido manter conquistas tais como direitos convencionados e reposição da inflação.
Desafios atuais
O coordenador-geral do Sindijornalistas/ES e também diretor da Fenaj, Douglas Dantas reforça que o sindicato tem dedicado muita atenção às mudanças tecnológicas que, somadas à crise financeira, agravam a empregabilidade e destroem postos de trabalho criando uma situação desafiadora para a categoria. “Regionalmente, estamos passando por um momento muito difícil com a crise financeira de A Tribuna, o fim do Notícia Agora e a transformação de A Gazeta em semanário, mas continuamos lutando para que os jornalistas possam ultrapassar essa fase. Entendemos que o bom jornalismo, ético e plural, sempre terá público. Precisamos nos organizar e ocupar com boas notícias muitos espaços ainda desertos. O sindicato está atento a todas essas mudanças e quer contribuir para que a categoria possa sair fortalecida e que os excelentes profissionais que ficaram sem emprego encontrem novas oportunidades”, destacou.
Dentre as conquistas recentes, o coordenador-geral lembra a compra da sede própria da entidade, no final de 2018. “Antes disso, com a crise vivenciada pelos trabalhadores e sindicatos, reorganizamos as áreas administrativa e financeira, fazendo várias alterações no organograma institucional embora sempre atentos à manutenção da qualidade dos serviços que oferecemos aos associados. Nesse sentido, o sindicato ingressou com algumas ações jurídicas e teve êxito em um processo, a favor de um grupo de jornalistas, o que garantiu, em consequência, a compra da nossa primeira sede própria. Agora estamos nos estruturando para transformá-la em um ambiente que atenda, de maneira prática e funcional, a jornalistas que precisem utilizar a estrutura do sindicato”.
Uma festa com muitas histórias
A comemoração de 40 anos do Sindijornalistas/ES, realizada no dia 5 de outubro, foi de muita alegria para jornalistas e convidados que participaram da feijoada de confraternização na sede do Sindifiscal, no bairro Jockey, em Vila Velha. Em meio aos abraços e às memórias que marcam a trajetória do sindicato, a faixa “Sindijornalistas-ES, 40 anos de luta, união e resistência-Fenaj/CUT”, reafirmou o histórico trabalho da entidade na defesa da categoria, do exercício da profissão e o compromisso com a ética, a diversidade e o Estado Democrático de Direito.
A diretoria prestou homenagem a seus ex-presidentes destacando sua trajetória sindical, iniciada em 1979, quando o Sindijornalistas/ES foi dirigido pela diretoria encabeçada por Rogério Medeiros. Na sequência, atuaram diretorias presididas por Edvaldo Euzébio dos Anjos (Tinoco), Sérgio Ricardo de Oliveira Egito, Dilson Ruas Alves, que dividiu o mandato com Maria de Fátima Côgo, Suzana Tatagiba Fundão (por quatro mandatos), Fabiano Mazzini Bonissem, Sueli Checon de Freitas, Mônica Cristina Oliveira Santos, Rodrigo Binotti Saluci (gestão compartilhada com Suzana Tatagiba Fundão), Marilia Eloá Poletti Druta (por dois mandatos) e Douglas Dantas Cardoso Gardiman (que assumiu o sindicato ao final da segunda gestão de Marilia Eloá Poletti) e foi eleito para o triênio 2018/2021.
As mudanças e desafios que a profissão tem enfrentado com o fechamento de jornais impressos e migração para a plataforma digital foram temas muito presentes nas conversas, bem como o destaque a jornalistas, já falecidos, que contribuíram com o trabalho do Sindijornalistas/ES na construção de sua história e trajetória.
Ao abrir a cerimônia, Suzana Tatagiba, primeira mulher eleita para a presidência do sindicato, ressaltou a atuação da entidade em defesa da categoria em todos esses anos.
Na sequência, o coordenador geral, Douglas Dantas, disse que o “sindicato é de luta e estará, sempre, na defesa dos jornalistas, custe o que custar”. Destacou a crise local no jornalismo impresso, agravada com o fechamento de jornais e muitas demissões nos últimos dois anos, e informou que estão sendo estudadas pela atual diretoria, formas de superar essa fase nebulosa. “Vamos conseguir ultrapassar porque o bom jornalismo sempre tem público e sempre terá. Além disso, só é possível haver democracia com um jornalismo forte. Vamos à luta e sempre à luta”, defendeu.
Memórias e reconhecimento
Tinoco dos Anjos, presidente no mandato de 1982/1985, lembrou a atuação de Rogério Medeiros, que não pode comparecer à festa por questões de saúde, e destacou, também, que a categoria deve se preocupar, além das mudanças tecnológicas, com as condições de trabalho e com o salário. “Tem de ter o profissional, o ser humano, que precisa estar bem remunerado e em boas condições de trabalho”, completou.
Rubens Manoel Camara Gomes (Rubinho Gomes), presidente da Comissão de Ética do Sindijornalistas/ES, reportou-se à fundação da entidade durante a ditadura militar, dizendo que a obtenção da carta sindical contou com o apoio do ex-governador Max Mauro, deputado federal à época pelo antigo MDB. “Foram dois sindicatos registrados na mesma época. Dos Jornalistas, presidido por Rogério Medeiros, tendo como secretário-geral o saudoso Chico Flores, e o Sindicato dos Médicos, presidido por Vitor Buaiz, tendo Nilton Baiano e Geraldo Pignaton. As cartas sindicais saíram praticamente no mesmo mês, em 1979. Eu tive a honra de ter sido o primeiro delegado na Fenaj, junto com Chico Flores”, acrescentou.
Glecy Coutinho, primeira repórter profissional no Estado, também homenageada, lembrou parte de sua história profissional. “Eu entrei em A Gazeta, por acaso, em 1963. Na verdade, naquela época não tinha nenhuma jornalista efetiva em A Gazeta. As mulheres faziam matérias, através de crônicas, e levavam lá para o jornal publicar. Eu passei do sistema de linotipo para a impressão a chumbo, off set”, disse ainda Glecy, que, antes de ir para o jornalismo, era professora do ensino fundamental. “Nessa época não tinha sindicato. A Gazeta dava aumento quando ela queria. Depois surgiu o sindicato. Eu participei e tenho ainda carteirinha”, registrou.
A ex-presidente do Sindijornalistas Sueli de Freitas (1997 a 2000), destacou a necessidade de manter vivo o movimento sindical e o papel do Sindijornalistas junto à sociedade.
“É uma luta que extrapola a luta da categoria. É luta de cidadãos e de cidadãs e nós, enquanto brasileiros, precisamos fazer isso no nosso cotidiano porque é a nossa vida que está em jogo. Precisamos ter isso como meta de vida. São nossos filhos, são nossos pais e a nossa história que está em jogo. A gente precisa incorporar a luta pela vida. A gente está correndo risco hoje, não só no Brasil, como no mundo. Valores como democracia e como liberdade não podem ser valores abstratos. A gente precisa, de fato, fazer uma reviravolta porque dentro desse sistema não há espaço para a vida”, acrescentou. Sueli lembrou, ainda, de pessoas fundamentais para o Sindijornalistas/ES, como Ademir Ramos, falecido precocemente, além de ter citado Júlio Paternostro, atual diretor do Sindijornalistas, e Fabiano Mazzini, ex-presidente, que não puderam comparecer à festa. O ex-senador Gerson Camata, morto em 2018, e que atuou como jornalista na imprensa local, também foi lembrado.
O repórter policial José Carlos Bachetti se referiu a lutas vitoriosas do Sindijornalistas/ES como uma greve de 24 horas, na Rede Gazeta, realizada nos anos 1980, e a garantia de um piso salarial de referência, de cinco salários mínimos, o que perdurou até o governo de Fernando Collor de Mello, no início dos anos 1990. “Naquela época”, argumentou, “a gente brigava e, se demitisse alguém da redação, a categoria parava, fazia assembléias gerais. Eu gostaria de repassar isso para os jovens. Votei na fundação do sindicato, como também votei pelo Sindicato dos Radialistas. Faço parte dessa história e não poderia nunca deixar de estar aqui”.
A festa reuniu jornalistas e seus convidados e foi um momento único de congratulações da categoria e de reconhecimento sobre a importância do Sindijornalistas/ES, entidade que ajudam a construir e a manter ao longo de quatro décadas. Um trabalho permanente, como destacou Rubinho Gomes, demarcado por princípios, valores e permanente “luta da entidade voltada à ética, verdade, diversidade, dignidade e justiça”.
Produção coletiva: Fátima Côgo, Suzana Tatagiba, Walter Conde, Douglas Dantas e Fernanda Coutinho
Fotos: Samuel Vieira e Arquivo Sindijornalistas/ES
Diagramação: Tânia Trento