“Tive que subir na arquibancada para exigir respeito como profissional”
Por Mônica Santos
Inicio este relato com o registro de um fato ocorrido em uma assessoria de Comunicação que eu fazia para um clube de basquete de Vitória nos anos 2000. Uma situação que mostra bem claro que numa estrutura esportiva também encaramos o desafio de impor nossa presença feminina em espaços anteriormente ocupados apenas por homens.
Então, até alguns atletas e jogadores assimilarem que nosso trabalho era necessário, levou algum tempo.
No caso, eu havia pautado uma entrevista para uma emissora de tevê no clube a que eu prestava assessoria. Antes de confirmar com a imprensa, obtive o aval da diretoria e também da comissão técnica. Nunca atropelei os profissionais que comandam o time.
Quando o repórter já estava no local, um atleta partiu para cima de mim para questionar o porquê da presença da imprensa no momento do treino. Como não havia percebido o quanto ele estava nervoso, respondi tranquilamente que a equipe da tevê estava ali para fazer matéria e entrevistar alguns atletas.
Ele ficou ainda mais nervoso, começou a gritar comigo e a dizer que eu era uma incompetente por ter marcado a ida da equipe de reportagem na hora do treino. Não me aguentei. Subi no degrau da arquibancada, coloquei o dedo na cara dele e disse que ele não podia falar comigo daquele jeito, porque eu era tão profissional quanto ele e que eu era tão importante para aquela estrutura quanto ele. A turma do “deixa disso” conseguiu nos acalmar. O repórter fez a matéria e nem sei se chegou a perceber o tumulto dos bastidores.
Ocupei outros espaços que eram bem masculinos, no final dos anos 1990. Tenho lembranças incríveis. Uma delas é do ano de 1994 quando nós, repórteres esportivos, fazíamos a cobertura da passagem por Vitória, do Troféu da Copa do Mundo, conquistado no tetra campeonato da Seleção Brasileira, e que estava percorrendo o Brasil. Foi uma sensação boa, de conquista, não pela seleção, mas, por mim mesma, de estar vivendo aquele momento.
Eu cobria futebol praticamente todo final de semana e, ao final de cada partida, descia para o gramado para entrevistar os jogadores. Em dias de vitória, os atletas eram só sorrisos e bom humor. Mas nos dias de derrota, corriam para o vestiário para evitar qualquer contato com a imprensa.
Mas como sabiam da minha dificuldade de entrar naquele ambiente, eles sempre eram gentis e apareciam para as entrevistas, de forma solícita e respeitosa. Posso dizer que meu início de carreira como jornalista esportiva foi suave.
Outro espaço bastante masculino é o automobilismo. Mas, na época em que comecei, outra mulher já comandava o espaço nas pistas capixabas: Julita Barros. Ela foi superintendente e também presidente da Federação de Automobilismo (FAEES). Então, minha cobertura nesses locais de competição foi tranquila, graças à precursora.
Fiz o curso de Jornalismo pelo UniCeub (Brasília) e, depois de 10 anos de formada, quis ampliar meus conhecimentos para ter um maior suporte nas coberturas jornalísticas e cursei Direito na UVV (Vila Velha). Passei pelas redações do jornal A Tribuna, Leia-se, GVT e Folha Vitória. Atuei como assessora de Comunicação da Federação Capixaba de Basquete, do Saldanha da Gama, Vitória Basquete, Praia Tênis Clube, além de trabalhar com os atletas Felício Pezente (piloto), Neymara Carvalho (bodyboarder) e Rafael Peres (piloto).
Estive na presidência do Sindijornalistas/ES, na gestão 2000/2003, período em que o STF decidiu tornar sem efeito a exigência de diploma para jornalistas. Atualmente sou microempreendedora individual, com o jornal online Voz do Piraqueaçu.