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As mulheres em espaços de luta

Por Maria José Braga*

O caminho para chegar ao Jornalismo não foi linear. Percorri muitas trilhas depois de decidir que não queria fazer Engenharia Civil ou Arquitetura, as duas opções consideradas naturais para quem tinha feito Edificações e já trabalhava num conceituado escritório de Arquitetura. Mas  a prancheta (sim, não havia computadores naquela época), calculadora, réguas e afins já não me encantavam mais.

Primeiramente, pensei nas letras, porque ler e escrever faziam parte do meu universo e me davam prazer. Entretanto, para ser minha profissão, aquela à qual eu me dedicaria todos os dias de vida, era preciso mais. Queria fazer algo que me mostrasse o mundo e as pessoas que dão significados a ele. Queria fazer algo que ajudasse os outros a entender sua realidade e, quando necessário, lutar para transformá-la. Queria uma profissão que fosse desafiadora, complexa e sociorreferenciada, mas ao mesmo tempo, empolgante e até divertida.

A reportagem era a porta aberta para esse mundo a desbravar. E, sinceramente, foi e continua sendo.

Comecei a trabalhar na Cooperativa dos Jornalistas de Goiás (PróJornal). Um sonho coletivo de fazer Jornalismo totalmente independente e livre, mas todos os envolvidos no projeto não conseguiam pagar suas contas.

Abandonar esse sonho foi a primeira decepção, não a única. Fui repórter do jornal O Popular (o principal diário de Goiás) por 22 anos, onde fui impedida de ser repórter de política, mais uma decepção com o emprego, não com o Jornalismo.

Como a profissão não tem glamour nem altos salários, acumulei empregos e fui também assessora de imprensa em entidades sindicais, partidos políticos e em organizações da sociedade civil.

A assessoria de imprensa, que foi atividade secundária por muito anos, tornou-se a principal depois da minha aprovação num concurso público federal. Voltei à instituição onde havia cursado Edificações como a primeira jornalista concursada. Coisas do destino, diria.

Outra parte associada à minha carreira profissional é a militância sindical. Se chegar ao Jornalismo não foi algo “natural”, aderir ao sindicalismo foi uma consequência imediata de pertencer ao mundo do trabalho. Como não lutar para valorizar a profissão e para poder exercê-la com dignidade? Assim, com o registro profissional em mãos, me sindicalizei e poucos meses depois estava na chapa que disputaria a eleição para o Sindicato dos Jornalistas de Goiás, entidade da qual fui presidenta, de 2001 a 2004, e continuo diretora.

O passo seguinte foi me eleger diretora da FENAJ. Meu primeiro cargo foi de vice-presidenta Centro-Oeste (de 1998 a 2021) e depois, na Executiva, ocupei os cargos de tesoureira (de 2001 a 2007), secretária-geral (2007 a 2010), vice-presidenta (2010 a 2013) e presidenta (de 2016 a 2022). Atualmente, ocupo o cargo de secretária de Relações Internacionais da FENAJ. E como consequência, a militância no movimento sindical dos jornalistas brasileiros levou-me à direção da Federação Internacional dos Jornalistas (FIJ), na qual integro o Comitê Executivo, em segundo mandato. Também pelo segundo mandato, integro o Conselho de Comunicação Social do Congresso Nacional, representando a categoria dos jornalistas. E, mais recentemente, passei a ocupar também a secretaria-geral do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC).

Os espaços de luta são muitos, porque o movimento sindical dos jornalistas brasileiros é múltiplo, diverso e plural. Tem na sua essência a defesa dos direitos trabalhistas da categoria, mas amplia-se pela compreensão de que sem democracia nas comunicações não há Jornalismo igualmente múltiplo, diverso e plural, e sem Jornalismo não há democracia real.

E na lista das ausências inadimissíveis, contra as quais é preciso lutar, podemos dizer que sem mulheres no Jornalismo e no movimento sindical dos jornalistas brasileiros, não há Jornalismo e sindicalismo possíveis.

Felizmente, no Brasil as mulheres estão na linha de frente da profissão e do movimento sindical dos jornalistas. Somos força que ocupa espaços,  provoca reflexões, exige transformações e promove conquistas. Eu me orgulho e me alegro de pertencer a essa força.

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*Maria José Braga – Diretora da FENAJ, da FIJ e do Sindijornalistas/GO e membro do Conselho de Comunicação Social do Congresso Nacional e do Fórum Nacional de Democratização.