Entidades do campo comunicacional se posicionam sobre o cenário político brasileiro
Postado em 31 mar às 11:24h
Preocupadas com o agravamento da crise política instaurada no Brasil, diversas entidades do campo comunicacional posicionaram-se em defesa da democracia e do Estado de Direito. Preocupadas com a postura da grande mídia e a cobertura jornalística em relação aos fatos, muitas delas alertaram que a postura tendenciosa dos meios de comunicação compromete o próprio jornalismo e sua credibilidade.
O Fórum Nacional de Professores de Jornalismo (FNPJ) resgatou que, nos regimes democráticos republicanos, há um fator que precede toda e qualquer investigação e publicação de possíveis atos de corrupção: a garantia de que a investigação e a cobertura jornalística sigam os mais elementares valores jurídicos e éticos da presunção de inocência, da igualdade perante a lei, do devido processo legal, do respeito aos direitos humanos. “Sem isso, há vício não só de forma, mas de mérito, e corre-se o risco, como agora, de incitação à violência e à condenação popular antes da condenação judicial e o da condenação judicial por teorias que dispensam prova material”, criticou o FNPJ.
A entidade também alertou que “Se a mídia não conseguir refletir um contraditório real em lugar do contraditório formal, em que os tempos de acusação e adjetivação contrários ao governo e eleitores que lhe dão sustentação não se equilibrarem com a defesa destes e com as acusações já feitas à oposição, teremos outro grave prejuízo: o próprio papel do jornalismo é que estará sendo questionado”.
Dirigindo-se a seus associados, a Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor) manifestou sua preocupação com o atual ambiente de insegurança político no Brasil, que coloca em xeque atribuições das instituições de poder nacionais e direitos das mais diversas ordens. A entidade rechaçou atos de intolerância e violência em qualquer âmbito, reafirmou a defesa dos valores constitucionais e o regime democrático e criticou a forma como a imprensa tem conduzido suas coberturas. “A atividade jornalística tem papel e função social importantes, relacionadas à defesa da democracia e à garantia do exercício da cidadania. Não pode, portanto, abdicar desse lugar que, conforme nossas pesquisas têm pontuado, é esperado e exigido não apenas por parte das audiências, mas também é norteador da práxis jornalística”, registra o texto.
Também em nota publicada no seu site, a Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (INTERCOM), diante do grave momento vivido pelo país, ressalta “a importância de uma atuação equilibrada da imprensa, que deve dar espaço ao contraditório e não pode funcionar, jamais, como tribunal midiático”. A entidade resgata que há menos de 30 anos os brasileiros voltaram a ter o direito de escolher pelo voto o presidente da República e destaca que “ Nossa jovem democracia precisa de vigilância para que atalhos não comprometam seu pleno exercício e lancem o país em aventuras de triste memória”.
O Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) convocou a participação de suas entidades e comitês filiados nos atos unificados em defesa da democracia e contra o golpe. Para o FNDC, “A rutpura da legalidade democrática em curso está sendo conduzida de forma venal pelos conglomerados de mídia que concentram as comunicações no país, o que reforça ainda mais a luta histórica do FNDC pelo fim dos monopólios do setor, por mais liberdade, diversidade e pluralidade nos meios de comunicação”.
Em Carta Aberta contra o golpe e em defesa da democracia, estudantes e professores de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) defendem o fim da corrupção, mas exigem respeito constitucional. No documento, manifestam “total indignação às ações que a sociedade brasileira tem assistido e acompanhado através dos noticiários da maioria dos meios de comunicação deste País, em nível nacional e regional, incluindo as redes sociais, que dedicam amplas coberturas favoráveis às ações do Poder Judiciário, sem a devida apuração jornalística em relação a práticas ilegais e abusivas cometidas na condução de boa parte das investigações das instâncias jurídicas, que comprometem sua validade e legitimidade, como vazamentos para imprensa de delação premiada sem provas, escutas telefônicas (grampos) que envolvem a Presidência da República sem a devida autorização prévia do Supremo Tribunal Federal”.
A Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação e Política (Compolítica), diante do cenário político nacional, também se posicionou repudiando a corrupção, o cerceamento à liberdade de expressão, o abuso de poder, a parcialidade da cobertura jornalística e a tentativa de ruptura da institucionalidade democrática e do Estado de Direito. “A Compolítica considera o jornalismo uma prática fundamental para a democracia, e como tal cabe a seus praticantes o dever de zelar pelos seus princípios éticos elementares. Nesse sentido, entende que a não verificação exaustiva da veracidade das informações divulgadas pelos veículos de comunicação, assim como a substituição da investigação jornalística criteriosa por ilações que são tornadas públicas como se fossem verdades indiscutíveis, constituem não somente procedimentos que ferem a Constituição Federal, mas que também comprometem a credibilidade e a legitimidade da mídia enquanto instituição fundamental do regime democrático, sem o qual os próprios meios de comunicação não podem existir livremente”, diz o documento.
Fonte: Sindicato dos Jornalistas do Ceará