TVE retira do ar programas históricos
Os programas Espaço Dois, Eu Sou o Samba, Curta Vídeo e Show de Esporte foram retirados do ar no início da pandemia do Covid-19 deixando um vazio, até então, sem explicação pública pelos gestores da TV Educativa/ES (TVE).
No último mês de março a TVE suspendeu as gravações dos programas em função de questões sanitárias e de cuidados frente à pandemia, ato justificável diante das restrições. Mas, se arguiu dificuldades, inclusive para reprisar programas, históricos, e com audiência cativa, a direção optou pela exibição quase exclusiva de audiovisuais de produção externa, suprimindo, de uma só vez, a abordagem diversa e plural que caracteriza a emissora.
Mesmo diante das argumentadas restrições, que envolviam servidores amparados por decreto estadual, portanto, em home office, a direção lançou programas ao vivo, diretos dos estúdios da emissora, como o Café com a Orquestra, de divulgação da Orquestra Filarmônica (ligada à Secretaria Estadual de Cultura) e o telejornal diário, Giro TVE. Este último, de exposição exaustiva de atos oficiais do governador Casagrande, reinaugurando uma prática provinciana, desgastada e ultrapassada do jornalismo chapa branca, onde se pode dizer que impera a propaganda e, não, a notícia.
Inserções governamentais, nunca com menos de 15 minutos, ao longo do dia, estão gerando reiteradas reclamações de telespectadores, particularmente no horário voltado ao público infantil, já que a emissora oferece uma programação diversa para a garotada. Imagine, em um momento, como este, de tão longo confinamento, desenhos serem atravessados por longas falas que, sem dúvida, não fazem parte do universo infantil.
Quem acompanha a TVE sabe que outra de suas vocações é a divulgação de manifestações artísticas e culturais do Espírito Santo apesar da caótica falta de pessoal e da ineficiente política de comunicação que contraria seu tradicional histórico. Informações recebidas pelo Sindijornalistas mostram que está em curso uma gestão sem transparência, respeito e diálogo com servidores, muitos dos quais, há mais de 30 anos de casa, onde desempenham múltiplas funções. Fora da lógica empresarial de mercado, a TVE tem público fiel e programas históricos e tradicionais como Espaço Dois, há 40 anos porta-voz de manifestações artísticas e culturais; Curta Vídeo, de valorização do audiovisual e de produtores e criadores capixabas, com mais de 29 anos de existência e Eu Sou o Samba, dedicado à música local, na faixa de 15 anos. Todos fora da atual grade o que, também, provoca questionamentos por parte do público.
A TV Educativa é uma autarquia, administrada pelo Governo do Estado, cuja gestão e funcionamento são estabelecidos pelo Conselho de Administração, órgão colegiado, de deliberação superior, que tem como responsabilidade “deliberar, aprovar ou recomendar o planejamento global das atividades do órgão; a programação anual e o orçamento; o regulamento interno e suas alterações, bem como as normas e os procedimentos administrativos do órgão”, como estabelecido pelo artigo nº 7, da lei 250/2002. Até então, não houve convocação do Conselho apesar das solicitações dos sindicatos dos Jornalistas, dos Trabalhadores Públicos e dos Radialistas, que representam os servidores da emissora.
É inaceitável que os gestores desprezem o que sobrou da divulgação plural e diversa da cultura e da arte capixabas e que são marcas da TVE. Ainda pior, diante dos impactos da perversa necropolítica de extrema direita do governo Bolsonaro que quer apagar diferentes visões de mundo. Queremos crer que este lamentável equívoco da gestão local não configure nova prática do governo Casagrande. Entretanto, frente aos atuais fatos cabe, perguntar se nós aqui, também, estamos sujeitos à uma política deliberada de silenciamentos.
Somado a tais desacertos, servidores foram surpreendidos dias atrás, com notícias na imprensa local, de que a emissora terá que deixar, em breve, o espaço onde está sediada há 20 anos, no Centro Cultural Carmélia de Souza. Também até agora não há informações oficiais sobre o destino da TVE, configurando mais uma ação de falta de transparência e de desrespeito aos servidores. Atos inaceitáveis. Incompatíveis com a transparência que o serviço público exige e rechaçados pelos sindicatos que cobram respostas da direção da autarquia e do governo Casagrande sobre os fatos em curso. Por fim, insistem em saber a quem interessa silenciar e apagar a divulgação das vozes plurais e diversas que constroem a arte e a cultura capixabas e por quê.